domingo, 18 de maio de 2008

INTRODUÇÃO

Popularmente chamada de profissão mais antiga do mundo, a prostituição é moralmente reprovada, dada a degradação que representa para as pessoas que a praticam e o incômodo que produz ao conservadorismo da sociedade, a qual repudia algumas práticas de liberdade sexual no convívio social, entendendo-as como desvios de comportamentos.
Nas sociedades primitivas, nas quais não existia a propriedade privada nem a família monogâmica, não se praticava a prostituição nem outro tipo de serviço pessoal remunerado. São conhecidos, contudo, casos de pequenas tribos nas quais os homens podiam incitar as mulheres à relação sexual mediante a oferta de objetos por elas apreciados. Em outros povos, a prostituição de meninas foi praticada como rito de iniciação à puberdade.

Com as primeiras civilizações da Mesopotâmia e do Egito, surgiram as prostitutas sagradas, vinculadas a certas divindades e a determinados templos. Na antiga Grécia também ocorreu a prática sexual relacionada ao culto religioso. A prostituição propriamente dita, tanto na Grécia quanto em Roma, era controlada pelo Estado, que cobrava altos impostos das prostitutas e as obrigava a usar roupas que identificassem a profissão. As héteras ou hetairas gregas, cortesãs cultas e refinadas que freqüentavam reuniões e festas de intelectuais e políticos, exerciam um tipo respeitado de prostituição.

A profissão tem florescido em todas as sociedades nos últimos seis milênios. Mulheres das mais distintas classes têm se dedicado ao prazer sexual, desde a Grécia clássica até as cortegiane di candela da Itália do século 15 e, até, as kehbebs muçulmanas.

Prostituição é a atividade que consiste em oferecer satisfação sexual em troca de remuneração, de maneira habitual e promíscua. A definição de prostituição baseia-se em valores culturais que diferem em várias sociedades e circunstâncias, mas geralmente se refere ao comércio sexual de mulheres para satisfação de clientes masculinos.

Já considerada como uma obrigação religiosa, passando pelo moralismo exacerbado da Idade Média e, chegando aos dias atuais, com os eufemismos das garotas de programa, estima-se que a prostituição conte com mais de 5.500 anos, levando-se em consideração apenas a época em que foi criada a escrita e, em conseqüência, a História.

Em 2003, a prostituição passa a ser reconhecida oficialmente como profissão no Brasil. O Ministério do Trabalho divulgou-a na nova CBO – Classificação Brasileira de Ocupação. O projeto de lei 98/2003, de autoria do deputado federal Fernando Gabeira, visa a regulamentação da profissão, com direito a pagamento pelas práticas sexuais.

Ainda de acordo com o projeto, a categoria tem direito à carteira de trabalho assinada, aposentadoria, assistência médico-hospitalar e outros benefícios como qualquer outro trabalhador. Determina também a extinção dos artigos 228, 229 e 231 do Código Penal Brasileiro, que criminalizavam a atividade das profissionais do sexo. O artigo 228 proíbe o favorecimento da prostituição, o 229 veta as casas de prostituição e o 231 combate o tráfico de mulheres.

O Brasil não foi o primeiro a adotar tal lei. Gabeira inspirou-se em uma iniciativa alemã. Naquele país, as prostitutas têm direito à assistência social e assinatura de contratos unilaterais, que lhes permite escolher livremente seus clientes e decidir, por conta própria, os serviços que desejam prestar.

Também há formas masculinas de prostituição homossexual e, em menor proporção, entre homens e mulheres. Todavia, esse livro não tem como objeto abordar exclusivamente a prostituição, mas fazê-la de forma generalizada, contando a história de um bairro criado e mantido para esse fim: o Jardim Itatinga, no município de Campinas, interior de São Paulo.
Sua criação se deu em meados da década de 60 e é ainda considerada uma grande área de concentração da prostituição na cidade. Este livro permite que se conheça os motivos que conduziram ao isolamento das prostitutas numa zona específica e justifica o glamour e as lembranças que sua época de apogeu desperta.

Considerada uma das maiores zonas de confinamento da América Latina, o Itatinga fez de suas ruas um palco para a exposição da beleza da mulher brasileira das mais diferentes regiões do país e se tornou conhecido internacionalmente. Digno de visitas ilustres, os bordéis mais luxuosos iluminaram as ruas do bairro e fizeram sua fama por mais de 30 anos. Recentemente, a prostituição voltou a se espalhar por Campinas. A violência, as drogas e a AIDS fizeram do Itatinga um local de medo e insegurança.

Mais do que falar sobre a prostituição e seus reflexos, Zona de Prazeres busca caracterizar a história do bairro, que hoje se divide entre casas familiares e os bordéis. O livro-reportagem elaborado como trabalho de graduação do curso de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, procura ser um resgate documentado da história do Jardim Itatinga, um bairro que surgiu, cresceu e se desenvolveu no cenário da expansão industrial, tecnológica e social de Campinas.

sábado, 10 de maio de 2008

APRESENTAÇÃO

O idealismo da profissão de jornalista, como função social de historiador, motivou a busca e a pesquisa de dados que constituem, na história de Campinas, interior de São Paulo, o caminho percorrido pelas prostitutas da cidade a partir da década de 60.

O tema escolhido, uma explanação do surgimento do bairro Jardim Itatinga, em Campinas, é um relato dos fatos mais marcantes, de seu ápice, seus momentos de glória. Uma narrativa da condução do luxo que o bairro conheceu ao lixo, enfim, a essência de um bairro que já foi a maior zona de confinamento de prostituição da América Latina.

Não há quase bibliografia, tampouco documentos sobre a formação e ocupação do bairro. As abordagens têm, em sua maioria, fundamento em pesquisas, entrevistas e depoimentos de políticos e de jornalistas que viveram a época da adoção do confinamento, de antigos e atuais freqüentadores, de profissionais do sexo que ali atuam ou atuaram, enfim, um resgate das boas e dramáticas histórias que contemplam, justificam e construíram a zona do meretrício em Campinas.

O público-alvo deste livro são universitários dos cursos voltados a questões sociais e humanas, urbanistas, historiadores, pessoas ligadas a entidades que lidam com a prosituição e moradores de Campinas, interessados em sua história.

A metodologia de pesquisa adotada foi, além da pesquisa documental e bibliográfica, uma pesquisa de campo, através de freqüentes visitas ao bairro, e participante, em que as pesquisadoras tiveram a oportunidade de acompanhar a rotina em algumas casas e boates no bairro.

As pesquisas bibliográfica e documental foram feitas em órgãos municipais, como as bibliotecas da Câmara Municipal e Prefeitura, em acervos jornalísticos nos meios de comunicação de massa da cidade e no Palácio da Justiça para desarquivamento do processo sobre um dos crimes que abalou o bairro.

A captação de fontes ocorreu a partir de contatos com pessoas que conhecem o Jardim Itatinga, sejam freqüentadores ou pessoas que atuam no local, como prostitutas e donos de casas de prostituição.

Os recursos utilizados na construção e confecção do projeto foram de responsabilidade da equipe. Optamos pela modalidade de livro-reportagem retrato, cujo foco é uma região geográfica, um setor da sociedade e visa a elucidar, principalmente, seus mecanismos de funcionamento, seus problemas, sua complexidade, segundo Edvaldo Pereira Lima em Páginas Ampliadas. (193, p. 45-46).

O objetivo da pesquisa é fazer um levantamento da formação do bairro Jardim Itatinga, documentando-o como referência histórica e aprofundando o estudo sobre a prostituição, seus reflexos, suas vertentes e os problemas sociais que resultaram no confinamento e no posterior processo reversivo - com o retorno das prostitutas à região central da cidade.

O objeto pesquisado é o Jardim Itatinga e, através do tema-problema, o confinamento, buscamos explicitar a prostituição presente no bairro, tratando do assunto sob a ótica de diferentes áreas e provocando uma reflexão sobre o tema, principalmente pela distância existente entre sociedade e prostituta e a atual e inevitável convivência.

Pretendemos contar a história do bairro, situando o leitor nas diferentes realidades ali vividas, ou seja, desde o início, em 1960, até 2003. Para isso, o livro foi dividido em oito capítulos. No primeiro, Campinas como palco da prostituição, situamos o leitor no contexto social e político da cidade no início da década de 50. Em seguida, Meretrizes e Meretrício, contaremos a história da zona do meretrício na área central da cidade.

No terceiro capítulo, A prostituição rumo ao confinamento, é o caminho percorrido pelas prostitutas até a formação do bairro Jardim Itatinga. No quarto capítulo, Faz a fama e deita na cama, é destinado às histórias da época auge do Itatinga.

No quinto capítulo, Nas páginas policiais, relataremos o polêmico caso Ênio Buck, um dos maiores crimes passionais ocorrido lá. Já no sexto capítulo, Memórias de uma dama, reservamos para contar o drama de uma prostituta que acompanhou a história do bairro.

No capítulo 7, Mãe de família, mulher da zona, contamos a trajetória de uma prostituta até chegar no Itatinga e a sua vida no bairro, como um perfil que pode ser estendido à muitas mulheres que vivem lá. No último capítulo, Um mundo às escondidas, mostramos o cenário atual do Jardim Itatinga.

Têm-se, então, as considerações finais, escritas através de nossa percepção e experiências durante a pesquisa e a elaboração do livro.