sábado, 10 de maio de 2008

APRESENTAÇÃO

O idealismo da profissão de jornalista, como função social de historiador, motivou a busca e a pesquisa de dados que constituem, na história de Campinas, interior de São Paulo, o caminho percorrido pelas prostitutas da cidade a partir da década de 60.

O tema escolhido, uma explanação do surgimento do bairro Jardim Itatinga, em Campinas, é um relato dos fatos mais marcantes, de seu ápice, seus momentos de glória. Uma narrativa da condução do luxo que o bairro conheceu ao lixo, enfim, a essência de um bairro que já foi a maior zona de confinamento de prostituição da América Latina.

Não há quase bibliografia, tampouco documentos sobre a formação e ocupação do bairro. As abordagens têm, em sua maioria, fundamento em pesquisas, entrevistas e depoimentos de políticos e de jornalistas que viveram a época da adoção do confinamento, de antigos e atuais freqüentadores, de profissionais do sexo que ali atuam ou atuaram, enfim, um resgate das boas e dramáticas histórias que contemplam, justificam e construíram a zona do meretrício em Campinas.

O público-alvo deste livro são universitários dos cursos voltados a questões sociais e humanas, urbanistas, historiadores, pessoas ligadas a entidades que lidam com a prosituição e moradores de Campinas, interessados em sua história.

A metodologia de pesquisa adotada foi, além da pesquisa documental e bibliográfica, uma pesquisa de campo, através de freqüentes visitas ao bairro, e participante, em que as pesquisadoras tiveram a oportunidade de acompanhar a rotina em algumas casas e boates no bairro.

As pesquisas bibliográfica e documental foram feitas em órgãos municipais, como as bibliotecas da Câmara Municipal e Prefeitura, em acervos jornalísticos nos meios de comunicação de massa da cidade e no Palácio da Justiça para desarquivamento do processo sobre um dos crimes que abalou o bairro.

A captação de fontes ocorreu a partir de contatos com pessoas que conhecem o Jardim Itatinga, sejam freqüentadores ou pessoas que atuam no local, como prostitutas e donos de casas de prostituição.

Os recursos utilizados na construção e confecção do projeto foram de responsabilidade da equipe. Optamos pela modalidade de livro-reportagem retrato, cujo foco é uma região geográfica, um setor da sociedade e visa a elucidar, principalmente, seus mecanismos de funcionamento, seus problemas, sua complexidade, segundo Edvaldo Pereira Lima em Páginas Ampliadas. (193, p. 45-46).

O objetivo da pesquisa é fazer um levantamento da formação do bairro Jardim Itatinga, documentando-o como referência histórica e aprofundando o estudo sobre a prostituição, seus reflexos, suas vertentes e os problemas sociais que resultaram no confinamento e no posterior processo reversivo - com o retorno das prostitutas à região central da cidade.

O objeto pesquisado é o Jardim Itatinga e, através do tema-problema, o confinamento, buscamos explicitar a prostituição presente no bairro, tratando do assunto sob a ótica de diferentes áreas e provocando uma reflexão sobre o tema, principalmente pela distância existente entre sociedade e prostituta e a atual e inevitável convivência.

Pretendemos contar a história do bairro, situando o leitor nas diferentes realidades ali vividas, ou seja, desde o início, em 1960, até 2003. Para isso, o livro foi dividido em oito capítulos. No primeiro, Campinas como palco da prostituição, situamos o leitor no contexto social e político da cidade no início da década de 50. Em seguida, Meretrizes e Meretrício, contaremos a história da zona do meretrício na área central da cidade.

No terceiro capítulo, A prostituição rumo ao confinamento, é o caminho percorrido pelas prostitutas até a formação do bairro Jardim Itatinga. No quarto capítulo, Faz a fama e deita na cama, é destinado às histórias da época auge do Itatinga.

No quinto capítulo, Nas páginas policiais, relataremos o polêmico caso Ênio Buck, um dos maiores crimes passionais ocorrido lá. Já no sexto capítulo, Memórias de uma dama, reservamos para contar o drama de uma prostituta que acompanhou a história do bairro.

No capítulo 7, Mãe de família, mulher da zona, contamos a trajetória de uma prostituta até chegar no Itatinga e a sua vida no bairro, como um perfil que pode ser estendido à muitas mulheres que vivem lá. No último capítulo, Um mundo às escondidas, mostramos o cenário atual do Jardim Itatinga.

Têm-se, então, as considerações finais, escritas através de nossa percepção e experiências durante a pesquisa e a elaboração do livro.

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